Muito se diz aos corações fracos. Aquele ali é todo alto e casual e clama aos quatro ventos que isto não significa nada. A luz do parque, também fraca, tenta apagar de vez a cena, mas sempre tive um sol demasiado forte ancorado ao peito; sei que não esquecerei.
Uma luz se apaga, a outra se apaga e a noite vai escurecendo os rostos, as palavras, as desculpas obscenas. Estrelas se debatem contra as nuvens tentando me fazer espectadora e pedir.... como uma tola... para despejar essa vã esperança em seu fogo. Quase todas estão mortas, e como eu imbecil, fazendo pedindo às mortas da noite. Hoje não olho para cima, só o que vejo é um peito aberto, um vazio imenso, incomensurável, que engole o infinito. Não há linha, não há agulha, a enfermeira pode lutar, me esbofetear e me amarrar à cama, pode me dopar, o médico pode balançar a cabeça agarrado à sua prancheta como um escudo, me dispensar com promessas e consolos sem nexo, sei o que sei, amanhã será um sabádo em vão; eu, presa nessa cama, peito aberto sem ter como costurar.
Tá bom, tá bom, a gente vai ficar bem, vamos ser felizes, vamos nos separar e nos encontrar com os olhos atados ao chão, uma risadinha aqui, uns filminhos vazios ali, vou fingir que esses meus olhos opacos são de sono, são de falta do que dizer. Não quero que alguém se debruce sobre o meu peito vazio, e diga que sou linda, maravilhosa, que o sangue quente e raro, tão raro que viu aqui dentro é o que quer para si. O que eu pedi era pequeno, nem havia necessidade de embrulhar para presente. Tenho leves consolos, por mais que involuntários; ele irá sentir minha falta e irá se arrepender, sentirá ciúmes, sentirá a mesma vontade que eu. Rirei então, como a bruxa má da história, ridícula, desvairada, rancorosa e finalmente vingada, rirei.
Veja a chuva, pequena, sinta o grande alívio desaguar em ti.
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As nuvens imensuráveis
ReplyDeleteO apodrecer debruçado
Escurece a esperança
De um consolo desculpado