Monday, 11 January 2010

It's never over

Hoje, vi no ônibus a cobradora conversando com um surdo, eu estava calma, um leve desespero no bolso e mais nada, as mãos vazias e um livro sem gosto no colo, os gestos entre eles eram precisos e rápidos como gestos assim devem ser, pareciam se conhecer, me distraía, hora olhando para suas mãos, hora me perdendo no azul janela afora. De repente, a cobradora fez um gestos simples em direção ao peito esquerdo e enunciou as palavras lentamente com a boca bem assim, "E o amor, acabou?". Foi algo tão delicado, tão gentil, nada de brusco brilhou em seus olhos, senti o ônibus cambalear, aquele amargor na boca voltou, um tombo por dentro, pontos pretos no campo de visão, todo aquele drama. Encostei a cabeça no vidro e me resignei à parar de respirar, se sacrifício é o que os deuses imaginários querem, é sacrifício o que terão. Terão minha falta de ar, minha falta de esperança, minha boca aberta, balbuciando como uma tola sem nunca encontrar minha voz, terão minha dor imensa servida em prataria bem polida, mas não terão minhas lágrimas, nem irão me desenraizar desse ligamento que me une ao mundo.
Eu, essa idiota, essa vaca, que diz não querer nada, enquanto sonha em ter o oceano inteiro em suas mãos.

"Não há grandes dores em grandes arrependimentos, nem grandes recordações.Tudo se esquece, até mesmo os grandes amores. É o que há de triste e ao mesmo tempo de exaltante na vida. Há apenas uma certa maneira de ver as coisas e ela surge de vez em quando. É por isso que, apesar de tudo, é bom ter tido um grande amor, uma paixão infeliz na vida. Isso constitui pelo menos um álibi para o despero sem razão que se apoderam de nós." Albert Camus

No comments:

Post a Comment