A filosofia me atormentou durante toda a vida, é difícil explicar como a reflexão me desviou dos caminhos. Um momento estou a ser... o que tento ser diariamente, tomando sorvete na sala, arrancando fios de cabelo, administrando a vida alheia, mas no outro sou Emil Cioran afirmando que só continuo viva porque posso me matar a qualquer instante. Para não contemplar o abismo, escrevo secas frases abstrusas. Faço um estardalhaço, me empoleirando em ideias sem raíz, sem nenhuma motivação profunda, assim respiro.
Am I to die here,
Unaltered and alone
A rotten fruit on stone?
All dance and leave me here, mad, cold and weary, marred by sun by moon by dust to dust why did you leave me?
De abismo em abismo, tento deixar pedaços, laços separados da nave-mãe. Dói-me existir, ter que me apresentar nesse teatro do absurdo para uma platéia indiferente, dia após dia. Viver deveria ser a pura poesia que pulsa no ar. Essa cruel análise me separa, mas tenho centelhas de esperança aqui e ali. Quando eu voltar, quando me tirar daqui e eu não ter que ser mais tão absolutamente completa, um fantoche repetindo estrofes de deuses e homens pensantes, específica e certa como uma conta bem feita - triste diagnóstico. Quando eu for então, amada, apertada, desejada, serei um aquário quebrado, estilhaço de vida, ah, serei tão feliz.
Será que agora vai?