Thursday 25 February 2010

In the parkway of desire

A filosofia me atormentou durante toda a vida, é difícil explicar como a reflexão me desviou dos caminhos. Um momento estou a ser... o que tento ser diariamente, tomando sorvete na sala, arrancando fios de cabelo, administrando a vida alheia, mas no outro sou Emil Cioran afirmando que só continuo viva porque posso me matar a qualquer instante. Para não contemplar o abismo, escrevo secas frases abstrusas. Faço um estardalhaço, me empoleirando em ideias sem raíz, sem nenhuma motivação profunda, assim respiro.


Am I to die here,


Unaltered and alone


A rotten fruit on stone?


All dance and leave me here, mad, cold and weary, marred by sun by moon by dust to dust why did you leave me?


De abismo em abismo, tento deixar pedaços, laços separados da nave-mãe. Dói-me existir, ter que me apresentar nesse teatro do absurdo para uma platéia indiferente, dia após dia. Viver deveria ser a pura poesia que pulsa no ar. Essa cruel análise me separa, mas tenho centelhas de esperança aqui e ali. Quando eu voltar, quando me tirar daqui e eu não ter que ser mais tão absolutamente completa, um fantoche repetindo estrofes de deuses e homens pensantes, específica e certa como uma conta bem feita - triste diagnóstico. Quando eu for então, amada, apertada, desejada, serei um aquário quebrado, estilhaço de vida, ah, serei tão feliz.


Será que agora vai?

Sunday 21 February 2010

There and back again

Even children believe in love, so why can't you?
Sure, children believe in fairies and dragons and salvation, but then again, there's no shame in believing.
This reminds me of last night when I saw you flying across the sea on the back of a crow, the stars cried and washed your hair like morning dew, mermaids chanted your name into the night, a herd of black wild horses stamped your name on the warm sand and I smiled knowning that even though we're so far apart, our destinies are intertwined. I know you think of me, you lie to yourself but think of me while you carve my name on tree trunks, write me secret poems and letters, when you hide deep in the forest trying to stay away.

A name, a name I write, though I try to forget. I try to forge a new identity to it, everyday I try not to remember it just like you try to erase it. But it doesn't work, some things are meant to find each other, bump in the night.

I hope to find a new meaning and whatever love or hate that might come in between doesn't matter, we'll work it out. Thread on.

Friday 19 February 2010

Ease your feet in the sea

I've always been driven, driven away...

Foi um rapaz que durante anos viajou só. Disse-me que conheceu as árvores mais altas, os pássaros mais exóticos, comeu insetos asquerosos, furou a língua com espinha de peixe, escreveu mensagens de amor e ódio à beira-mar, respirou fundo toda a maresia, toda a fantasia louca de viver essa imensidão de ar. Encarava de frente o horizonte quando disse que um dia me levaria lá.
Disse-lhe que não o esperaria, deixaria a sua promessa em alguma gaveta, levaria a minha canoa para o alto mar, dormiria embalada pelas ondas, seria a rainha das águas, abençoada pelas estrelas com meu vestido de espuma e coroa de algas, cantaria doces canções para a noite suave, sonharia com cavalos de nuvens à galopar pelos céus, pintaria a minha pele com todas as auroras e crepúsculos e também estaria só na imensidão selvagem... do meu coração.

Nossos destinos se perderão, no entanto, pois no meio dessa tragetória, já não estarei mais só.

Thursday 18 February 2010

Paint the sun beyond the clouds

Ela também tem sonhos. Sei disso, vi a foto que guarda dentro do livro de auto-ajuda, vi pelo jeito que corre e rodopia através do dia sem propósito ou direção.
Às vezes também corro, desvios de certos beijos, certos olhares, não quero me envolver, me impressionar, não quero participar da roda. De que vale ter uma filha assim, escrava de suas emoções, corroída pela insatisfação, pela paciência. Meu futuro brilhante foi escrito e não vivido. Sentença definitiva de todo letrista; viver através dos dedos da falta da dor da lembrança de um sonho que não cabe no mundo.
Na tontura da fome, choro essa desesperança nossa, esse desencontro de momentos. Quando outros me esbarram, sempre sussurram em meus ouvidos em penitência, "Desculpa, pequena. Mil perdões. Te quero bem, me queira bem. Adeus". E é com isso que tenho que viver, por isso cansei. Não procuro mais a exatidão nos números, nos horóscopos, nos olhos, quero um encontro ao acaso, num dia de quase certa derrota, no da bêbado em que eu tiver desistido de ter, só assim terei de novo.
Meu sonho maior é ser uma pintura, observada, detalhada, copiada, adorada e nunca compreendida.

Tuesday 16 February 2010

Interlúdio

Sou pequena diante do amor, diante da náusea que me dá quando sinto que estou perdendo, a raiva que me dá sabendo que posso me congelar por dentro, mas basta uma meia dúzia de palavras para eu derreter de novo. Sinto tanto a minha falta. Sei que estou só, que não consigo pensar ou me aprofundar, que toda vez que meus dedos afundam essas teclas quer dizer que tem algo de errado. Ô, coração pesado, calma, calma aí.


Tenho pouco o que dizer nesses dias azúis, quero somente que a luz me arrebate de novo e que não mais me deixe no lado escuro do dia, tentando recordar.


... o caminho da sincronia e das águas calmas, do grande alívio noturno, é lento e cheio de sinais contrários, mas isso não quer dizer que não exista e que não indique o caminho certo. ei, a coisa sempre volta e direto pra você. Just slide.

Wednesday 10 February 2010

Cowboys

Curvas de rios vivos, desvios.
Pássaros cegos na luz da manhã e seus voos insólitos.
A solidão, meu carro-chefe, é que me trouxe aqui.
A morosa música que ouço ao longe
Flutua baixo ao despenca a noite
Em meu desfiladeiro abissal
Diferente das verdades que conheço.

Tudo é só. Um só.

Um só cavalo, apenas um sol acima de meu chapéu, um caminho, uma voz, talvez uma águia como guia. Minha visão, muito fraca debaixo desse fogo, dessa brancura crua, sem remorso, percebe a loucura de ser, mas não estar.
Dispenso as flores, as cortesias, as promessas. Meu espírito é frágil, mas a resolução continua a mesma. Frente à frente à frente. Sei o que sei e o que sobra disfarço em frases curtas.
Quando perder o medo do oceano que trago comigo - quando entender que não é um deserto que carrego, esse deserto apenas finjo que carrego, na verdade é um mar; nenhum cavalo nada ali, nenhum chapéu fica onde está. Sou um abismo da alma. -, entenderá que uma concha não precisa de pérola para ser jóia e que meu coração é pequeno, ah, pequeno o suficiente para guardar.

A coragem de cada sol levo no peito, até o fim do mundo.

Friday 5 February 2010

All saints are liars

Mentira mentira mentira alento... horas espaços universos abertos/lacrados estrelas pontos de luz luas faces lívidas peixes lentidão guelras sorrisos voltas revoltas desespero desencanto tantas santas curvas o mar que desliza e me rebate

Verdade verdade verdade uma canção fraca pede passagem.


Eu sei que é confuso; peço para, seja lá quem decida ler isso aqui, que acredite aalma de cada palavra, nesse quase dizer que já diz muito. Tenho saudade de você, mais de mim. Meus sonhos antes transitavam os alpes suíços, as densas florestas da Índia e do Camboja, ilhas gregas, Grand Canyons, pampas, castelos na Alemanha. Agora, sou o sonho de um sonho, sou o destino de alguém e não tenho como tentar fugir.
Meu coração tem a audácia de se entregar, eu decido remar ao léu por coragem, sim, e por falta de bom senso, até uma meio que rebeldia contra a realidade, afinal, o que há de real nisso tudo? Você de seus desvios sobrevive, quase não vive, quem sabe se é, pede desculpas ao vento, às paredes ancestrais e me ama em silêncio.
De um charme deselegante, uma casualidade deslocada, se diz indiferente, pronuncia meu nome pelo canto da boca, quase uma prece, possui todos os ódios do amor...
Sabe, precisa-se de muita confiança para ser assim covarde.

Tuesday 2 February 2010

Meet me in space

Deito-me no asfalto em plena avenida, um sorriso colado no rosto, os pés em direção às estrelas, a lua nua à espiar. Morcegos atravessam a noite sem reparar minha presença despencando aqui em baixo. Uma noite clara, exata, quase uma queda vertiginosa derramada no chão.
Lembro-me de casa, da piscina com seu cobertor de folhas, do gato solto pelo jardim, das músicas lentas que sempre embaram minhas noites quentes, penso em meu terraço, meu santuário.
Nada das coisas com as quais sonha, encontrarão você. Sim, você pode se esconder no coração das palavras, na neblina tonta desses dias úmidos. Pouco me importa. Ah, e diz não me ver, mas conheço toda a realidade por trás dessas frases rasas.
Eu? Também não posso lhe esperar, vou adiante onde um outro poeta me queira. Nunca podemos esperar ou nos desesperar, o cosmos nada espera. E as leis que sigo são tão antigas quanto as estrelas, talvez nunca compreenda.
Durante a noite, você galopa e volta para mim, veja, cometas como testemunhas, a lua a esmurrar contatos. Sonha com a noite como se eu fosse ela e com o quase quase quase que quase aconteceu.
Tropeço fácil e caio de quatro, o chão também é misterioso e escuro feito o espaço.