Ela também tem sonhos. Sei disso, vi a foto que guarda dentro do livro de auto-ajuda, vi pelo jeito que corre e rodopia através do dia sem propósito ou direção.
Às vezes também corro, desvios de certos beijos, certos olhares, não quero me envolver, me impressionar, não quero participar da roda. De que vale ter uma filha assim, escrava de suas emoções, corroída pela insatisfação, pela paciência. Meu futuro brilhante foi escrito e não vivido. Sentença definitiva de todo letrista; viver através dos dedos da falta da dor da lembrança de um sonho que não cabe no mundo.
Na tontura da fome, choro essa desesperança nossa, esse desencontro de momentos. Quando outros me esbarram, sempre sussurram em meus ouvidos em penitência, "Desculpa, pequena. Mil perdões. Te quero bem, me queira bem. Adeus". E é com isso que tenho que viver, por isso cansei. Não procuro mais a exatidão nos números, nos horóscopos, nos olhos, quero um encontro ao acaso, num dia de quase certa derrota, no da bêbado em que eu tiver desistido de ter, só assim terei de novo.
Meu sonho maior é ser uma pintura, observada, detalhada, copiada, adorada e nunca compreendida.
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