Sunday 31 October 2010

A flying message

- But so many people seem to want this very same future...


- Well, fine. We'll be a legion of mad crackers with pink hairdos and a bunch of sick cats to feed until the day we're found dead at the bottom of the stairs, our faces half chewed on, 3 days too late for anyone to care.


- You feed on misery.


- I feed on life.


***

Contudo e mais um pouco, não serei esquecida. Creio que sou chata demais para escapar à memória. Sou membra vitalícia de sua solidão, de suas decisões impulsivas, do frio que lhe faz nos dias em que não estou.

Esmago o último mês com a força das mãos. Esmago o último ano como uma maçã podre.


Ontem às 3, o gato se espreguiça no tapete da cozinha - dengoso, delgado. E você, querido, você quando foi beber de cair na calçada e caiu em mim do outro lado da galáxia... você se lembra?

Já nem sei mais. Não sei pedir.

A gente se encaixa em qualquer lugar. Nos reencontraremos, e para mim, o universo de meus sonhos é todo redondo e a existência segue os círculos misteriosos, tão surpreendente quanto a gota de chuva que atinge seus óculos e muda a visão.

E estive só. A solidão nos comprime no tempo, nos alastra no tempo, é o norte na floresta, uma gota cada vez mais distante, menor e menor entre as folhas e formações rochosas.

Tudo que me foi tirado eu cato dos lixos entulhados pela cidade, eu pego de volta (sim, ser não é ter e ter não é ser, mas eu quero os dois), tudo meu retorna como numa rajada de vento. O que há? Aprendi a acreditar.

Pois estou louca, não vê? Uma loucura visionária, com a habilidade de saber o curso das palavras, de não precisar transitar entre as decepções, pois a única pergunta dign que se pode ter em mãos é,

Por que não?

Saturday 30 October 2010

You can break all the rules

É difícil escrever agora que respiro de novo.


Sua memória de mim lhe atinge em sucessões ébrias, pois sabe que eu teria deixado os espaços mais suaves, e mesmo que tão receoso ainda, de repente se cansa de sua forjada liberdade - para alguém tão jovem, que não sabe se desapegar de si, nem de seus deuses imaginários, a liberdade torna-se uma bigorna- , assim de mansinho se esgueira em minha direção. Me procura pelas beiradas das cenas, dos dias, das falas dos outros e cada palavra minha, um soco, cada falta minha, uma noite mal dormida. Não é que eu seja algo vital, apenas entendo melhor do que a maioria.


Retiro de mim cada um como um contrato desfeito; os esparadrapos, as restos, os suores, a surdez, a solidão, o seu cheiro, o debater-se em cantos vazios. Agora retenho o que achei estar perdido, aquilo que eu sei que não preciso, mas é o que eu quero, pois até nesgas de luz fraca são melhores do que apodrecer na escuridão.

Sunday 24 October 2010

In plain sight

O som de sua própria voz quando longamente assim se alastra lhe agrada; é quase um horizonte. Ele disse poder enxergar o fim dos tempos e que havia ficado cego assim como os profetas ficam cegos e que não se importava por demais com as quedas ou com os hematomas agora recorrentes, de todo, jurou que pouco importava ser ignorado, vilipendiado ou não ter mais notícias do presente, porque possuía o caos universal dentro da barriga e seu umbigo era como um olho, mesmo que doente. Pois saiba que os profetas também mentem. Desesperadamente.


Ela jacta-se de caminhar pelo deserto adentro, mirando-se nos heróis que não existiram, ou dessa maneira faria se lhe calhasse o tempo, (re)clama que se o destino (destino, destino, desatino; anseio alcoolizado de ter para onde ir) permitisse, passaria um ano debaixo dessa chuva, pois de perto é bem mais certo do que viver aqui, disse ainda conseguir cortar a própria cabeça com um machado cego e fodam-se os pássaros que recorrem rasamente os céus, foda-se a calúnia que é escrever profecias, foda-se que cartas, chuvas e desertos são meramente os rastros da solidão. De barriga cheia é que não se vai longe.


Segue-se então, o nado latente dessas duas pessoas cruas tão desejosas de serem observadas como que invictas, intactas, indolores. O que possuem, além de limões bem cortados, além do conforto manso de nunca enfrentarem quem elas pensam que são e dos antigos rasgos profundos no peito, são suas mãos - que espatifam copos na pia, juntam-se aos olhos quando deles caem lágrimas, engasgam palavras, escrevem lembranças, soturnidades, culpas e repartições - , mãos que quando cá se reencontram, ah, abarcam um futuro em plena vista, mesmo que elas mesmo já não percebam.


Veja! A antiga sorte carregando-nos em seus braços, atenta e barulhenta feito um bebê.

Wednesday 20 October 2010

Dawn of our times

Fecha os olhos, solta uma risadinha, enfia o punho na manteiga e se pergunta, por que não hoje?

Afinal, vive-se hoje em um mundo de homens covardes, infantis, frios e de mulheres artificialmente poderosas, vive-se num mundo pidão, num mundo-criança-mimada-batendo-os-pés-no-chão-de-raiva, vive-se em um mundo onde o tédio é a gasolina da rotina, onde o amor é conveniente e prático e morto como nossa presente vida urbana - não que "a paz" do campo seja melhor - , onde há tanto profissionalismo, tanto pragmatismo, tanto dogmatismo nas artes que perdeu-se a possibilidade de ser inútil e belo. Ao mesmo tempo em que muito da arte se tornou inútil e belo por comodidade apenas, não por paixão.

Aceito que não sei, porque sei de tudo mesmo não entendendo nada. Não escrevo coisa com coisa, não filosofo o que for, me recuso a seguir as estruturas, porque não preciso, não quero fazer sentido, compreender o sentido ou viver em uma realidade extremada e completamente forjada a qual os aleijados emocionais se convenceram a chamar de vida. Questiono para viver humanamente, não para entender a vida.

Desejo apenas que seja bonito com o conceito de beleza que me cabe e que me é devido, pois sim desejo que os beijos inconsoláveis e as lágrimas de desculpa e de muita culpa e os leiçóis no pé da cama e o corpo-personagem-de-meus-cantos sobre o meu corpo e que a noite, as luzes, a chuva enlacem e desenlacem todos os dias daqui em diante, isso que eu não entendo, mas que é meu, eternamente meu.

Saturday 16 October 2010

Tango till you're sore

Olha mas que barriguinha amarela e o olhar!fixo no horizonte, em mim, ai ai ai, o que irá fazer, para onde esse desejo se/me atravessa? O cigarrar das cigarras corta a saudade ao meio, os pássaros não mais anunciam partidas ou chegadas, apenas rodopiam, sem frutos a bicar ou ninho a que voltar.


Você tropeça na escada, abaixa a cabeça e engole seco a culpa e a dor por ter fugido tão impulsivamente assim, pobre rapaz.


Olhe a tonteante lua, botãozinho q-quebrado no céu, com nossas mãos dadas, somos atirados de encontro um ao outro pela multidão.


Quanto o tempo já nos faz...


Estranho como ainda conseguimos falar aos milhares, podemos renascer, livres dos velhos desencantos, pois agora coroados de toques que brotam macios e ébrios, who are we to deny the heat?


O que há comigo, se pergunta. Por que não completo os textos? Os contos? As ideias? Para quê? Se tenho aqui as fotografias queridas, renovadas, tremidas por minhas mão úmidas que escapam e escorregando caem através de suas costas, suas pernas, seu ar.


Reverenciada seja a chuva que salpica as janelas, atravessa os dedos por entre meus cabelos e... não me beija com tanto esmero quanto você faz todo dia, ainda assim, mas que beijo!

Friday 1 October 2010

I'm going back east

A dança mais bonita que dancei foi com uma folha seca na piscina.

Não há cura para esse sol que pousei sobre sua cabeça cansada.

O seu coração palpita. É noite, noite, somos tão jovens...

A rosa branca é rosa.

(Cai caisim cai cálida branca do céu ao chão)

Perfume branco de branco-rosa envolve os meus mistérios.

As fotos na cabeceira, cartas por entregar, olhares encantados, mãos que deslizam lentas sobre minha pele febril, haverá resposta?

Um rosto colado ao meu, vontade de não ter que se despedir jamais, me a solidão, o antigo carro-chefe.

Dias, tantos, e a luz...

Um beijo junto ao peito e o vento que nos carrega para perto de nossos braços. Mais ávidos e imediatos que o medo que por vezes lhe tira a visão.

É no escuro que recebo o abraço mais querido, o aperto mais sentido e a vontade de me fazer universo, verso unido, completo.

O que fará comigo, folha seca rodopiando em volta de meu corpo, tão pequeno, tão pálido ainda?

O medo de não saber nadar na correnteza que criei em seus caminhos. Soltei-nos do envólucro da apatia, do lascado casulo da angústia do ser.

Ô, pessoa que conta mentiras a si própria para não me amar.

Pessoa que desperta quando eu desperto, passa mal quando estou mal, como uma sombra que copia essa coreografia de não mais viver o eco dos dias.

Palavras dispersas, perfumes dos mais certos, a tarde que nos oculta em seu santuário, e se há porto, se há mar, que uma jangada seja construída, que haja sobreviventes, pois precisam de nós.

Como é difícil escrever com esses braços em volta de mim, com essa falta de ar, essa fissura, beijo meu que rasgou-lhe a jugular, beijo teu que levou-me à tona.

Me dirá sim e estará curado.

"yes when I put the rose in my hair like the Andalusian girls used or shall I wear a red yes and how he kissed me under the Moorish wall and I thought well as well him as another and then I asked him with my eyes to ask again yes and then he asked me would I yes to say yes my mountain flower and first I put my arms around him yes and drew him down to me so he could feel my breasts all perfume yes and his heart was going like mad and yes I said yes I will Yes." — James Joyce