Sunday 24 October 2010

In plain sight

O som de sua própria voz quando longamente assim se alastra lhe agrada; é quase um horizonte. Ele disse poder enxergar o fim dos tempos e que havia ficado cego assim como os profetas ficam cegos e que não se importava por demais com as quedas ou com os hematomas agora recorrentes, de todo, jurou que pouco importava ser ignorado, vilipendiado ou não ter mais notícias do presente, porque possuía o caos universal dentro da barriga e seu umbigo era como um olho, mesmo que doente. Pois saiba que os profetas também mentem. Desesperadamente.


Ela jacta-se de caminhar pelo deserto adentro, mirando-se nos heróis que não existiram, ou dessa maneira faria se lhe calhasse o tempo, (re)clama que se o destino (destino, destino, desatino; anseio alcoolizado de ter para onde ir) permitisse, passaria um ano debaixo dessa chuva, pois de perto é bem mais certo do que viver aqui, disse ainda conseguir cortar a própria cabeça com um machado cego e fodam-se os pássaros que recorrem rasamente os céus, foda-se a calúnia que é escrever profecias, foda-se que cartas, chuvas e desertos são meramente os rastros da solidão. De barriga cheia é que não se vai longe.


Segue-se então, o nado latente dessas duas pessoas cruas tão desejosas de serem observadas como que invictas, intactas, indolores. O que possuem, além de limões bem cortados, além do conforto manso de nunca enfrentarem quem elas pensam que são e dos antigos rasgos profundos no peito, são suas mãos - que espatifam copos na pia, juntam-se aos olhos quando deles caem lágrimas, engasgam palavras, escrevem lembranças, soturnidades, culpas e repartições - , mãos que quando cá se reencontram, ah, abarcam um futuro em plena vista, mesmo que elas mesmo já não percebam.


Veja! A antiga sorte carregando-nos em seus braços, atenta e barulhenta feito um bebê.

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