Motoboy que pára em meio ao tráfego e, desmontando como dum touro bravo, abre o compartimento traseiro, tira 3 ou 4 caixinhas de dentro e enfia na boca o máximo de macarrão instantâneo e arroz que consegue
Charco e náusea.
Num comer comer com as mãos, ai dor de parto sem destino.
As buzinas e xingamentos em volta são dos rostos burros, grosseiros da noite, dos gatunos famintos. Seu único rastro no mundo se encontra em suas mãos ensebadas, em seu coração regado a óleo, a shouyo. Mas de súbito, como uma cobra que após o bote cospe fora a casca do ovo que apanhou, ele cospe tudo fora, lança as caixinhas através do asfalto e arrebata o grito ferido que me despertou.
Acordo cedo. Um cansaço de 2000 anos. Acordo pensando que é assim o marasmo irremediável de ter algo por tempo demais. Não se deve abusar do calor alheio, acaba-se suando todas as energias, todas as magias.
A sensação logo passa. Meu sinal de vida mais fiel não é o pulso que me acompanha, é a fome. Uma ânsia por estar sempre de encontro, sempre a caminho. Está no ato de não fazer tudo hoje, de salvar o resto dos atos para depois, porque sou louca, porque acredito que o amanhã virá de encontro a mim. E virá.
da noite ao dia
À chuva.
"Amor é futuro à vista". - Guimarães Rosa