Wednesday 2 February 2011

Remembrance

Ontem sonhei que era um motoboy, um entregador de comida chinesa 24h que tocava de hora em hora as campainhas da cidade.

Motoboy que pára em meio ao tráfego e, desmontando como dum touro bravo, abre o compartimento traseiro, tira 3 ou 4 caixinhas de dentro e enfia na boca o máximo de macarrão instantâneo e arroz que consegue

Charco e náusea.
         Num comer comer com as mãos, ai dor de parto sem destino.

As buzinas e xingamentos em volta são dos rostos burros, grosseiros da noite, dos gatunos famintos. Seu único rastro no mundo se encontra em suas mãos ensebadas, em seu coração regado a óleo, a shouyo. Mas de súbito, como uma cobra que após o bote cospe fora a casca do ovo que apanhou, ele cospe tudo fora, lança as caixinhas através do asfalto e arrebata o grito ferido que me despertou.


Acordo cedo. Um cansaço de 2000 anos. Acordo pensando que é assim o marasmo irremediável de ter algo por tempo demais. Não se deve abusar do calor alheio, acaba-se suando todas as energias, todas as magias.


A sensação logo passa. Meu sinal de vida mais fiel não é o pulso que me acompanha, é a fome. Uma ânsia por estar sempre de encontro, sempre a caminho. Está no ato de não fazer tudo hoje, de salvar o resto dos atos para depois, porque sou louca, porque acredito que o amanhã virá de encontro a mim. E virá.

 da noite ao dia


À chuva.


"Amor é futuro à vista". - Guimarães Rosa

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