Wednesday 24 November 2010

to write

Como, como pisar a calçada daqui em diante? como isso se dá? Poderia fazer como sempre faço; cuspir imagens, frase em inglês, achismos, poderia fazer como você e viver a dor de escrever sem poder confessar. Poderia dizer "o artista deve estar onde o mundo está", mas não sou Milton (aquele de Três Pontas), poderia escrever aquela de Camus, "o destino não é uma punição", mas quem sabe exista destino e ele seja irremediável e esteja traçado, delineado à caneta.

Passos hesitantes pelos tapetes... através dos tacos soltos, das calçadas desdentadas com suas pedraemoitinhas, até

reverter e repetir discursos, pois como era para Kundera é para mim: a felicidade é o desejo pela repetição.

Meu taurinismo auto-indulgente, sensual e palatal se engalfinha com as teclas durante as noites de chuvas gordas, enquanto você atravessa a cidade escura a pensar em mim.

Sendo assim, meu escorpianismo obscuro, místico, beligerante por vezes escreve.

Meu aquarianismo escreve no ar, redondo, tombalhante, sem volta.

Penso em continuar junto à beira onde pequenas inspirações poéticas decaem sobre mim, respingando palavras salgadas em meu rosto. Mas nunca me basto.

Oh, ventilador negador de sonos, pálido encolhimento do eu.

sou pássaro ruim, acabo lhe desesperando, causando saudades com meu voos repentinos, com minhas distâncias repentinas, com meus planos delirantes de embalsamar o mundo em mãos e soltar, largar tudo e fugir.

Empilhando estilhaços do futuro e ainda consigo sentir árvores fruindo, invadindo meus caminhos.

Escrever é a sede, a fome de não precisar mais viver.

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