Tuesday 27 October 2009

All I want is the moon upon a stick

De nada adianta cantar bonito, ondular sensualmente os quadris e girar um pouco tonta ao redor das páginas, pois as perguntas virão e o tombo violento das respostas mudará todo o eixo da idéia, e você sabe, quando a música muda, nós desgraçados fodidos... a gente dança.

E cada vez que venho, recito uma confissão. Sei que todas já estão abatidas, mas lembro-me do que Kundera disse sobre a necessidade da repetição para sermos felizes, então digo: Nada sei dos livros que leio, nem dos textos que são atirados em minha direção, nem das vozes da televisão que vem de muito longe, os detalhes que ouço passam por mim despercebidos, significados são todos improvisados, vivo brincando ser, e procuro respostas nas folhas, abelhas, vagalumes, na chuva que suspira à noite. E me contam segredos de séculos, mas não é nada que eu possa usar, nada tem nexo, pois a língua que usam está acima de mim. Os rostos lá de casa, também, se perdem nos corredores e portas e severos schedules e pouco existem hoje em mim.

Nunca quis minha vida pelas ruas e bares, se abrindo em sorrisos ao se deparar com o sorriso dos outros ou se desmanchar aos abraços com os braços dos outros, para mim a vida é um livro em branco, onde nada é e tudo se cria. Não posso compartilhar a alma e me espalhar pelos cantos do mundo, preciso de uma razão e não de fazer como faço; cruzar os momentos em suspense torcendo para pisar em falso, talvez despencando de algum alçapão para sair dessa cena ruim e mudar a peça de uma vez.
É preciso se criar um universo, porque se eu morrer sem o meu universo, poderei ter escrito em todos os cadernos e cantos de livro, poderei ter repartido todas as palavras e as jogado ao vento, poderei ter gritado mais alto que todos ao descer na montanha-russa, poderei ter deitado na grama à tarde e sonhado as cores mais loucas, poderei ter tido todos os confidentes e amigos e amores que as meninas que suspiram nas janelas sonham em ter, sem ele, não terei existido.

Condiciono-me a continuar a busca, chafurdando-me nesse mar de horror, abro em mim espaços para enfiar tudo que acho, toda e cada pecinha sem valor. Amo essas tolas mortas, essas cansadas esquecidas, amo com um amor furtado dos outros, pois não há em mim mais forças para a entrega, para me deixar levar pelos toques e rituais e por todo esse léxico de afeição que vejo no amor alheio.

E digo para mim como se já não fosse eu, como se fosse essa outra pessoa, uma não desesperada ou tão exausta, em um canto rouco, em uma forma de preçe já sem esperança de mudar o que for: Não seja esse entulho humano, pare de acumular em sua alma todo esse lixo emocional, não seja assim tão triste, seja feliz, por mim, por nós, antes que o mundo nos esqueça e desapareça.


"He loved, beneath all this summer transiency, to feel the earth's spine beneath him; for such he took the hard root of the oak tree to be; or, for image followed image, it was the back of a great horse that he was riding; or the deck of a tumbling ship--it was anything indeed, so long as it was hard, for he felt the need of something which he could attach his floating heart to; the heart that tugged at his side; the heart that seemed filled with spiced and amorous gales every evening about this time when he walked out." - Virginia Woolf

Friday 16 October 2009

Castles made of sand

Todo dia, a pequena concha faz pequenos pedidos à estrela da manhã: ser jovem novamente, não ser tola dessa vez, não ser tão amável, tão afável como antes, ter sua pedra de volta e não ter que sofrer mais a chacota das outras por ter sua pele carcomida pelo mar, pela areia, pelo vento, por pés humanos, por cachorros vadios. Mas logo ouve o trovão distante, os estalar alucinado se aproximando, o chamado para mais uma viagem e se lembra porque escolheu ser assim.

Dentro dela morreu uma pérola e agora não tem mais forças para cuidar de si, as outras conchas não perderam nada e permanecem como são, enterradas quentinhas, quietinhas assim na areia, então dançam em sua volta sem conseguir entender como ela pôde destruir algo tão frágil, tão íntimo seu. Ora veja, se até humanos compreendem isso, apesar de se esquecerem dos dizeres de tempos em tempos (sussurraremos aqui "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"), por que nossa colega concha sem-nome - e dar-lhe um nome de nada serve, se o que há dentro de si é apenas um daqueles vácuos que se expandem ardentes e sem trégua, se arrastando por entre todas as curvas de seu peito e que não termina nunca - se deixou levar pelo balanço do mar? Todas nós, conchas esclarecidas, aprendemos cedo o recado trazido à nós através de sonhos ancestrais, entendemos que o chamado do oceano é o chamado da morte e que não devemos nos engraçar com esse seu balançar cheio de estratagemas, esses estratagemas é que o aniquilam pra valer e achamos que nossa amiga ali no canto, ha-ha-ha, se esqueceu que não há farol no mar para uma pérola esquecida. Se entra no mar, mas não se dança com ele.

Compreendo, minhas amigas, entendo tudo o que querem dizer muito bem, recitei sonhos ancestrais à mim mesma todas as noite desde que nasci, acontece que quando era jovem e mais afável, passei a entender que a vida era só selvagem, nada mais valia, queria o caos fervoroso dessa implacável imensidão azul aqui em frente me jogando contra as rochas, me marcando inteira, queria uma vida de contatos, não de embalos suaves, não uma pedra mágica enclausurada por dentro, não essa solidão inconsolável que todas vocês guardam e que é infinitamente maior e mais pesada do que qualquer pérola.

Mas, mas você perdeu...

Sim, perdi. Não se descobre a vida sem conhecer a morte. Aprendi que, ao contrário de vocês, companheiras, falhei, porém, sei que meu sacrifício não foi em vão.

Então, pretende ficar aí, perdida na vida, sem recheio pra cuidar, toda lascada e rídicula?

Sim, até à próxima viagem.

Thursday 8 October 2009

Ha!

Amargurado sois vós.


Possuo certos pontos em comum, claro. O pesaroso e severo schedule da vida em algum lugar por aqui, sei que está por aqui. Ah, e tenho também o sorriso ensaiado, sem contar a risada tão politicamente correta e matematicamente exata, que se encontra em um estado de pura poética (não a de Aristóteles, mind). Tenho o cigarro, as cicatrizes, as pílulas, a internação, os livros e a música de merda. Tá certo, tá certo, sou quase o quase de pessoa que você é, mas o porém (saiba que o porém é onipresente e se encaixa em qualquer lugar, além de ser um filho da puta psicopata por assassinar a linha do pensamento lógico no simples anseio de mudar o rumo da história) é que o que quero realmente e que é minha ambição maior é, - apesar das bilhares de combinações cerebrais caóticas e contraditórias e do acúmulo de informações altamente complexas que venho colecionando há anos, do desespero por ter a memória intermitente, dos pontos de luz que surgem entres as árvores na hora de todos os santos e que recriam a cor do seu cabelo, das tragédias forjadas, mortas, reanimadas, das frases dos outros - comer.

Monday 5 October 2009

All is full of love




The night embraces me softly.

One light goes on, another goes off, flickering white shadows pass by me in a rush, this is what they do to you. The air feels like it's carrying a song at its heels, it goes on and on, it goes on so hiiiigh, this song dances around me the same way a herd of ghost wild horses would dance around me, would make me spin... I know If I put my head out of the window, I'll catch the ancient voices of the city calling out my name into the night, like wolves, announcing my place in the world, my place in the wilderness of their hearts, trying to beckon me closer, because even the indomital souls have a place for me.

I don't mind.

The croaking of their howls, the sound of their paws breaking the dead roots and leaves on the way, they all beat in the same tune as my heart, I know it well.

Oh, tender is the night. How soothingly it touches me, how gently it breaks my heart. I walk alone all the time, only I know the way. The dim light of the lamp pole burns my eyes, I don't mind. My head spins like a merry-go-round out of control. My cheeks are flushed, my eyes are open wide and my mind like the wind, taking me away... I don't mind.


Love is something so light that it floats above my head like blue balloons, I let them go up into the sky, leaving me here, hands up the air, trying to grasp at something that was never mine to begin with.

This time around, I'll not apologise or light up a candle. Anything my hands touch from now on, it will be mine.

This is me in the east, this is me in the west, no matter where I am, I am what's left.