De nada adianta cantar bonito, ondular sensualmente os quadris e girar um pouco tonta ao redor das páginas, pois as perguntas virão e o tombo violento das respostas mudará todo o eixo da idéia, e você sabe, quando a música muda, nós desgraçados fodidos... a gente dança.
E cada vez que venho, recito uma confissão. Sei que todas já estão abatidas, mas lembro-me do que Kundera disse sobre a necessidade da repetição para sermos felizes, então digo: Nada sei dos livros que leio, nem dos textos que são atirados em minha direção, nem das vozes da televisão que vem de muito longe, os detalhes que ouço passam por mim despercebidos, significados são todos improvisados, vivo brincando ser, e procuro respostas nas folhas, abelhas, vagalumes, na chuva que suspira à noite. E me contam segredos de séculos, mas não é nada que eu possa usar, nada tem nexo, pois a língua que usam está acima de mim. Os rostos lá de casa, também, se perdem nos corredores e portas e severos schedules e pouco existem hoje em mim.
Nunca quis minha vida pelas ruas e bares, se abrindo em sorrisos ao se deparar com o sorriso dos outros ou se desmanchar aos abraços com os braços dos outros, para mim a vida é um livro em branco, onde nada é e tudo se cria. Não posso compartilhar a alma e me espalhar pelos cantos do mundo, preciso de uma razão e não de fazer como faço; cruzar os momentos em suspense torcendo para pisar em falso, talvez despencando de algum alçapão para sair dessa cena ruim e mudar a peça de uma vez.
É preciso se criar um universo, porque se eu morrer sem o meu universo, poderei ter escrito em todos os cadernos e cantos de livro, poderei ter repartido todas as palavras e as jogado ao vento, poderei ter gritado mais alto que todos ao descer na montanha-russa, poderei ter deitado na grama à tarde e sonhado as cores mais loucas, poderei ter tido todos os confidentes e amigos e amores que as meninas que suspiram nas janelas sonham em ter, sem ele, não terei existido.
Condiciono-me a continuar a busca, chafurdando-me nesse mar de horror, abro em mim espaços para enfiar tudo que acho, toda e cada pecinha sem valor. Amo essas tolas mortas, essas cansadas esquecidas, amo com um amor furtado dos outros, pois não há em mim mais forças para a entrega, para me deixar levar pelos toques e rituais e por todo esse léxico de afeição que vejo no amor alheio.
E digo para mim como se já não fosse eu, como se fosse essa outra pessoa, uma não desesperada ou tão exausta, em um canto rouco, em uma forma de preçe já sem esperança de mudar o que for: Não seja esse entulho humano, pare de acumular em sua alma todo esse lixo emocional, não seja assim tão triste, seja feliz, por mim, por nós, antes que o mundo nos esqueça e desapareça.
"He loved, beneath all this summer transiency, to feel the earth's spine beneath him; for such he took the hard root of the oak tree to be; or, for image followed image, it was the back of a great horse that he was riding; or the deck of a tumbling ship--it was anything indeed, so long as it was hard, for he felt the need of something which he could attach his floating heart to; the heart that tugged at his side; the heart that seemed filled with spiced and amorous gales every evening about this time when he walked out." - Virginia Woolf
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