Monday 16 August 2010

Oh, my darling obsequious ghost

I could sing about the old ones.


but I won't.


É porque lemos uma porrada de dor, de indignação, de desprezo, de miséria. É porque estudamos filosofia, antropologia, história, caçamos blogs de música, é porque lemos Neruda. É porque ouvimos os sambinhas cansados, os darwaves macabros, é porque cantamos esse amor que temos medo de viver, enunciandos essas palavras que não compreendemos mais.

Se escrevemos cartas, falamos de saudade, alguns de nós nem têm duas décadas diante dos olhos, mas morrem de saudade, pedimos desculpas, esbarramos na multidão de nós mesmos.

Assim percebo quando começamos à tarde, porque a tarde se espreguiça arrogantemente em nossos braços. Observamos um ao outro, lentos, urdidamente distraídos. nossos grandes amores passados foram derrotados. Quando nos beijamos, esquecemos o furo que fizemos no mundo, as ruínas que pintam o plano de fundo dos dias dos outros. Não temos pátria, ideal, soldado ferido a que salvar. Nosso desejar e amar um ao outro, aquele com o rosto bem próximo ao nosso, é quase apocalíptico. Os números aumentam e nem conseguimos dissimular essa fissura inexplicável.

***

Kundera estava certo acerca da lentidão, mas a sua geração sabia caminhar, mesmo que fosse um caminho na merda. Por que a nossa se arrasta nessa lama, se afasta, desenterra o passado e faz ridículos esqueletos de castelinhos de areia toda vez perto demais da água, por que se continua com as mãos vazias?
Não sei o que há para tentar, para construir, que filhos teremos? Filhos de nós? Nós, esses cadáveres dançantes que empilham as ruas com seus sonhos?

Desprezo toda a minha geração.

Odeio as suas ambições medíocres, suas mulheres amargas, carentes, atrizes, seus homens egoístas e infantilizados, meninos montados em frases de homens mortos, homens podres e mortos, acima de todas as outras, odeio a gargalhada estridente perturbando as nossas noites, aquele desespero seco de quem nunca sangrou.

Não tenho orgulho de meus méritos acadêmicos ou de participar do frevo de bêbado que são as nossas instituições federais, com seus fósseis de livros, seus pensamentos datados, que forçam um bando de desgraçados a se prostrarem em fila indiana a cada duas horas, todos os dias. Só o que vi foram egos inchados, brados e gesticulações brutais, o giz descendo o quadro como uma navalha e ensinamentos que não tiram a minha cretina geração desse estado semi-cerrado.

***

Penso em meus amigos queridos, mortos ou vivos.

Digo aos vivos: não é a minha intenção pisotear ninguém, não é que eu não saiba amar ou retribuir, mas agora... agora morri, bem aqui, morri graciosamente debaixo deste sol e lhes deixo tontos. Ao final do dia, meu corpo morto jogará os livros no chão, inválidos,

 perdão, perdão,
        darei-lhe um beijo para a sangria estancar, precisarei de um café, dois, chorarei o silêncio que atira no escuro para atingir o próprio coração. Ouço Cartola tentar, "Deixe-me ir, preciso andar. Vou por aí a procurar..."

Nós somos os mortos da noite, mas

sozinha ainda procuro a saída dessa festa escrota.

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