Thursday 9 September 2010

Soft shock

Acordo com o seu rosto inconsolável afundado no travesseiro.


Admito, tenho visto rostos à beça, minha parede mesma é cheia deles. Rostos tristes, pensativos, eufóricos, apaixonados, ansiosos com as contas à pagar, a poluição, o trágefo que irão enfrentar ao sair para buscar os filhos na escola, reprimindo epifanias, saciados, sádicos, dopados.


Não incomodam, penso devagar, e olha, tendo a pensar rápido em dias com noites como estas, então é bom se dar trégua e falar arrastado, sorrir desdesejosa e tracejar com a ponta dos dedos um rosto inconsolável na parede para depois tracejar com a macia língua um peito em constante palpitar à minha esquerda.


Que eu tenho razão, já sabia. Erro pouco agora que os dias tem me oferecido demais, não sobra tempo para errar. Conta mesmo é ficar aqui me espreguiçando, dedilhando no ar as melodias de ontem. Nada de me empoleirar e escrever uma conclusão bonita para essa história que nem está perto do fim ainda. Prefiro não abusar. Relato episódios futuros como as mãos precisas de uma cigana com as cartas na mesa. Ora, se acerto, apenas meus olhos não disfarçam o pequeno triunfo, como eu disse, é melhor não abusar. Ter; coisa mais agustiante, bovina, perene, suspensa no ar!


Agradeço por ter chegado até aqui sem qualquer ideia fixa do que é viver, do que é o encanto, do que é ser mulher, ser amada, e quando me pedem para justificar as palavras e os atos, digo logo, irrelevante, defina você, no ato.


Essas palavras, essas ações, são tontas e distraídas como aquele fio de água desenhado na grama ressecada. Prefiro não compreender, pois se tentasse, teria que tentar entender também o porquê de nada morrer entre nós, o porquê de conseguirmos driblar todos os desvios.


Toque a pele inteira à sua frente e ria da absurda necessidade alheia de nada saber apertar.

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