Wednesday 1 September 2010

I dreamt that I dwelt

Ô, menina sumida, menina atrasada, fazassinão, você trilhou meu corpo tantas vezes com a ponta de seus pequenos dedos, com a ponta de sua língua demorada, por que desistir agora, agora é o recomeço... para mim.


Encontram-se na sala, essas pessoas jovens, e todos fitam o quadro na parede. Cada um vê uma cor, traço, contorno ao seu modo, porque é assim que jovens em salas veem o mundo, só ela que quando olha para frente vê a si, ampliada, sem fronteiras, ela mesma, demais. Aqui está sua própria sombra; pisa firme à sua frente, e ela só dorme depois do galo cantar, seus pés descalços dentro d'água ficam lá parados enquanto o mar rasga-lhe os tornozelos.


Teria sido sempre assim?


Essa menina, tão ampliada, cortadora impiedosa de arestas, filha dos mares do sul, amante/inimiga, minha, minha, minha parasita, fungo que me inchou o peito? Pois não entendo se estou mais, se existo ainda, ela me parece tão cansada, revoltada, revoltante, apaixonante...


Houve um tempo em que seu rosto deu-me tédio; amplitude também cansa. Via os dias estáticos como caixas brancas iguais, enfileiradas sem fim, seu rosto adorável dentro de cada caixa a me exasperar. Não sei o que abortou a revolta e a vontade de dilacerar o futuro, mas quando dei por mim já estava aqui com essa febre: suando frio, numa porra de saudade irracional, esperando ver os seus cabelos negros, seu nariz vermelho, suas roupas monocromáticas, seu senso de humor irritante, sua demora arrastada angustiada contada partida... chegada.


Ai, menina que me atrasa, palpitar involuntário idiota, como se impregnou dentro de mim? Queria a vaga liberdade de gritar, "sou eu que dito, bebo, traio, vou e volto, sou eu que me revolto, não você", queria poder me negar. Esse eu, que no meio desejei o fim, agora sei que não há mais como lutar contra esse... algo-similar-àquela-antiga-rede, aquela que me prendeu uns anos atrás.


Do pensamento não se (es)vai.

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