E se eu lhe contar dos tropeços que demos, da vontade de morrer que sempre chega em um tempo de que nada serve morrer, do sonho louco de poder falar a língua do outro, de poder sorrir assim em um desabrochar espontâneo, se lhe contar do desejo mal contido, daquele arrepio elétrico, do alívio da vinda, do desamparo da partida, das coisas que deixamos para trás, se eu lhe explicar o pouco que consigo respirar quando me sobe essa agulhada, essa leve tontura que me dá ao perceber que você desvia de mim, porque o que eu tenho ocupa um espaço sem fronteiras, e quem quer levar para casa esse elefante rosa prostrado no meio da sala, completo e vivo e sem nenhum remorso?
Desejo para mim muita fé, boiar surdacegasemdireção, líquida em absoluto, deslizar sóbria, branda por entre as pedras e desaguar onde o mar que me abraça de volta não tem medo da força primitiva que lhe ofereço.
Abraço-me em um aperto rígido atrás do abacateiro no jardim em meio aquela lânguida paz das coisas mudas. Sei que sou o borrão da pintura, a lasca na taça, aquela que você assume conhecer sem nunca fazer as perguntas certas para saber de verdade, aquela escorada na grama do outro lado do muro do mundo.
Ah, inveja. Galhos retorcidos. Passos longos. Doce é a dança.
O mundo nada entende e é, entendo tudo e nada sou.
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