Em contrapartida, nós sempre necessitamos das mãos alheias, somos frágeis continentes partidos, tudo nos falta, tudo se precisa, já o limoeiro é um universo completo e cada folha, fibra, fruto sabe a hora de se deixar cair.
O jardim morreu quando a casa morreu, eram irmãos. Gosto daqui. As coisas mortas se espalham, as coisas mortas se agarram a tudo, se enroscam às janelas, me fazem tropeçar. Frutos podres, flores secas, traças, traças, mamões brancos, um pântano como um ferida exposta salpicado de moscas e suas larvas, seus monstros rastejantes. A lente vira de um lado para o outro aflita, não sabe que cena guardar. O rolo está no fim; sacrifícios terão de ser feitos.
O que houve com o jardim para enlouquecer depois de morto? Talvez tenha crescido tanto para cobrir a casa, dar-lhe uma sepultura digna... talvez seja essa sua verdadeira natureza, que durante anos foi podada e mantida em cativeiro... ou talvez seja essa a jornada da morte: corredores de limas e mamões e frutas-do-conde, do duque e do marquês, cactus floridos e mais nada.
Assaltando minha próprias palavras, repito algumas frases antigas: Adormeço embalada pelo som de ondas escondidas em conchas. Às vezes o sono vem fácil. Acordo atada à mesma linha invisível e indivisível. Não vou sair daqui ou recuperar o fôlego. Se assim há de ser, entendo. Não pense que não entendo. Não estou reclamando, estou lhe lembrando. É assim dessa maneira tão natural e plena que me perco. Curar não vem ao caso... Para mim só se vive sonhando, sorrindo sonhando, piscando, piscando, piscando.
Good night, Neptune sky.
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