Saturday, 5 December 2009


On the surface, simplicity. But the darkest pit in me is pagan poetry...



Signo de elemento terra. Segunda Casa, a das possessões. Planeta do Amor e todas as suas consequências grotescas. Touro.



Minha voz suprema não é ser, é ter. Ter para poder ser. Meus rituais são oferendas, são sacrifícios físicos. Não sei se os deuses compreendem isso, se aceitam minha rendição de posses como algo de genuína humildade, mas é tudo que sei. Eu tenho amor e não tenho amor, tenhos os olhares, sorrisos, os livros, os passos errantes em volta das horas, tenho a lua e a noite na vigília, tenho as palavras, as que roubo, as que esbarro e as quebro nas bocas dos outros. Tenho a tentativa fraca de cuidar da memória, guardar o retrato nítido, esconder a última nota, o último gemido no bolso.

Já quase não fico dentro da pele, meu sangue ralo corre devagar, desvia e desagua no grande vazio de mim, mantenho nas gavetas as peles que encontro em cima dos braços que me seguram, não me conseguem soltar, não são capazes de não me esbarrar, enquanto só quero estar ausente de mim. Quero ser sepultada em outros corações.



Talvez a maior dor da terra é ver seus filhos voltando à ela mortos. Enterre-me viva, que eu seja colada na palma da mão do mundo que pulsa aos meus pés, que ele seja meu também. Que daqui e para bem à frente daqui, eu seja a dona de minhas posses, que todas as minhas cores, ventos, lençóis, beijos, cada átomo de célula tenha um nome, um endereço, algo a que voltar. Que vá você para o inferno se não quer ser de ninguém, que eu contradiga a liberdade e diga que é minha, não sua. Sua voz ecoando no corredor é minha, suas águas violentas, suas folhas azúis, todo o vago sentimento de desapego da vida que você sente quando cai a tarde e tomba o seu rosto pra baixo, que isso seja meu também.



A mãe terra sussurra à noite às vezes, explicando como entendi tudo errado, todo taurino entende errado, ama errado, sonha errado. Nossas possessões são nossas mãos taurinas, nossos cascos, que temos que usar para enraizar coisas, tipo cebolas e feijões. Nada além. Temos que pegar os souvenirs de viagens que nossos parentes fizeram pela remota Ásia, nossos sapatos caros, telefones, blocos de notas com poemas bêbados, lanternas e perfumes e jogá-los nos trauseuntes, gritando e girando e puramente sendo sendo sendo e tendo assim o mundo... pra fora, pra dentro, derramado em todas as direções.

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