Não é noite que me chama, muito menos as luzes que despertam ao longe. É alguém de dentro que sabe a hora de todos os momentos do mundo. O destino me fez cega guardiã do tempo, à espera de uma essência ou sinal de vida vindo de muito além.
Minha hora é entre eu e o vento.
Na tontura real da vida, seleciono as informações mais tolas para definir as pessoas; minha avó mandou plantar jasmins debaixo de sua janela para sempre ter um quarto perfumado, o gato gosta de me ver tomando banho e se enrosca no tapete do banheiro quando tiro a roupa, a gata me lambe a minha mão em súplica quando está irritada, minha mãe passa o dia procurando coisas para fazer sempre esperando por algo que virá a seguir sem nunca se plantar em momento algum, a irmã mais nova entende minhas piadas, a do meio se ofende com elas, uma tia critica, a outra é criticada, aquela amiga gosta de cores indefinidas, aquela outra de cores intensas, aquele amigo ondula os braços no ar, mexe as pontas dos dedos devagar sobre teclas imaginárias sobre sua cabeça, aquela conhecida me corta em mil pedaços com o olhar, mas alivia isso com palavras doces e vagas, aquele conhecido me contorna inteira com o olhar e me fala como se eu não fosse nada. São tantas as espressões, as causas, faltas, livros, filmes e citações, o que escolher? Seria preferível deixar a sorte escolher por mim, deixar os astros, os números nas ruas, as cartas me indicarem o que ter, o que levar comigo e quem levar junto.
Seria mais confortável não ter que passar a vida me decidindo e sacrificando ou, simplesmente, não me importar, mas talvez seja o meu destino também enxergar além dos rosto e das palavras e sentir cada impacto e cada tombo, até os de outrem. E quem sou além de uma criatura reles e vil à pilhar ao redor desse pequeno universo? O que há em mim para questionar essas forças irracionais e implacáveis que tecem o tecido da vida e me prendem à sua rede? Essa leve humildade, essa quase falta de força de vontade é que me faz ser assim bem eu.
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