Monday, 21 June 2010

Who will put flowers on the flower's grave?

As amoras pego do pé ainda vermelhas, é que tenho pressa, sabe. A fleuma não é para mim. A maçã? Espero que já esteja cortada no prato. Quando à noite chego em casa... quero um banho longo, quero meu chá peach'n'passion fruit esperando por mim.

A problemática da idiossincrasia é não ter como explicar que seus dedos são curtos demais, suas mãos demasiado pequenas, sua boca selada, não há como carregar a dor dos outros ou distribuir a própria dor aos outros. Cansa tanto ter que dizer que este corpo me aperta, que esta mente me oprime, que estou enclausurada em mim, eu, déspota de mim, eu, serva de mim. Como explicar que dormir é um amigo ausente, que a biblioteca é a minha igreja e que meus deuses sofrem muito mais do que eu? Seus nomes ecoam eternos, suas vozes esgotadas, seus amores lembrados e esquecidos... é uma pena não haver uma luz, apenas um sorriso dúbio no final do túnel. Quem proteje os nossos deuses? Quem os salva de si mesmos?
E nessa de que a vida já não anda e de que nada cede, de que nossos deuses estão em frangalhos, meu tema será 'escolhas'. As forças cósmicas são arbitrárias demais, e por vezes, ocultas demais; seus códigos me atravessam sem deixar rastros. Como hei de permitir o cosmos me guiar dessa maneira? Prefiro você, parede minha, my reliable source. De mim nada sei, por isso espero por você na esquina, aquela perto da padaria, que esquinas, guria, olhe em volta, esta cidade foi recortada bruscamente por você no ano passado, triângulos malditos, pedaços perdidos rasgando o calcanhar dos desavisados, não se lembra?
Ok, então escolho os descampados. Esta é a cidade das sobras, afinal, de tudo que só se vê de longe, capaz de exaurir todo pensar, lembrar, ir atrás. Esta é a cidade onde o tempo morreu, mas ainda tenho pressa.

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